Um bom apreciador de café está sempre à procura de novos sabores que surpreendam o próprio paladar. E no mercado cafeeiro o que não falta é novidade!
É o caso de cafés exóticos, como o Café Jacu, o Kopi Luwak e o Black Ivory, variedades que possuem processos de produção bem inusitados: a partir das fezes de animais.
No caso do Café Jacu, ele é um produto de cultivo 100% brasileiro e produção originária do interior do Espírito Santo a partir da observação de seu cultivador. Ao notar que seu produto compartilhava de uma situação semelhante ao de alguns cafés mais caros do mundo, produzidos em outros países, ele decidiu comercializar a iguaria.
O dono da fazenda não demorou a entender que o seu café poderia ter o mesmo processo de produção que as variedades estrangeiras.
Portanto, o Café Jacu Bird também passou a ser produzido a partir das fezes de animais. A diferença se dá pelo animal, uma espécie de pássaros natural da Mata Atlântica, típica da região capixaba: o Jacu – daí, o seu nome.
Por mais estranha que a ideia possa ser, há um motivo para que a produção seja dessa forma e para o café ter se tornado referência de excentricidade no mundo todo.
Quer entender como isso é possível? Vamos explicar tudo sobre o Café Jacu no artigo de hoje. Boa leitura!
Afinal, o que é e de onde vem o Café Jacu?
O Jacu Bird Coffee ou Café Jacu Bird é uma variedade de café gourmet 100% arábica e brasileira, de sabor característico e fama internacional.
Ele é originário da Fazenda Camocim, localizada no interior do Espírito Santo, em Pedra Azul, Domingos Martins, região montanheira produtora de café.
Embora Minas Gerais e São Paulo sejam os principais produtores de café especial no Brasil, outras regiões do país também crescem e se especializam na produção do café diferenciado.
É o caso da região montanhosa (acima de 400 metros) do Espírito Santo. A partir da década de 1980, essa região melhorou a qualidade de sua produção de café com técnicas mais avançadas e maquinário. Isso permitiu um maior controle no processamento dos grãos.
As principais cidades produtoras são Afonso Cláudio, Venda Nova do Imigrante, Alfredo Chaves e Castelo.
No entanto, Domingos Martins ganhou destaque pela produção desse café exótico.
Apesar de a sua produção ser pequena, o Café Jacu é considerado um dos cafés mais caros do mundo e do Brasil, sendo a maior parte da sua produção destinada ao mercado internacional. Aliás, é justamente o fato da produção escassa que faz esse café ser considerado raro e aumentar seu valor no mercado.
Com características semelhantes aos cafés de montanhas – encorpado, com acidez média a alta, doçura e boa complexidade de aromas, o Café Jacu conserva um sabor equilibrado que deixa um gosto bom na boca.
Mas o seu diferencial mesmo é ser um produto exótico.
Um pouco da sua história
Atualmente, praticamente toda a produção de Café Jacu é destinada à exportação, mas nem sempre foi assim.
Tudo começou na Fazenda Camocim Organic, localizada na região montanhosa da Reserva Florestal de Pedra Azul, no município capixaba de Domingos Martins, ES.
A fazenda produtora de café vinha tendo problemas com a sua produção, por conta dos pássaros (jacus). O jacu, ave nativa da região, atacava os cafezais, devorando e destruindo os frutos antes da colheita (cerca de 10% da produção).
Com isso, as produções eram prejudicadas, causando prejuízos e diminuindo muito o lucro da fazenda.
O dono da fazenda, então, tentou encontrar uma solução alternativa para não ter que exterminar as aves.
Ele lembrou do processo de produção de café utilizado em outros países que haviam passado por uma situação semelhante.
É o caso do Kopi Luwak (ou Kopi Luak Coffee, como também é chamado), o café mais caro do mundo. Produz-se o Kopi Luwak a partir de grãos extraídos das fezes de uma espécie de Gambá selvagem da região do Sumatra e Indonésia.
Assim como o Jacu, o animal já foi considerado uma praga pelos cafeicultores da região. Mas, hoje, coabita em harmonia nas fazendas de café, contribuindo para a sua produção.
Sendo assim, os produtores passaram a observar que a ave, após digerir o grão maduro de café, também o expelia inteiro, conservando intactas as suas características.
Dessa forma, se tornou possível a coleta dos grãos e adaptação do processo de produção à realidade capixaba, a fim de produzir um café único e diferenciado.
Foi assim que a ave passou de vilã a colaboradora do cafeicultor, fazendo nascer o Café Jacu, mais caro do Brasil.
Como se produz o café?
O grande diferencial do Café do Jacu Bird é incorporar a ave homônima em seu processo.
Como o Jacu não só come os grãos, como também seleciona os melhores, mais saudáveis e maduros. Desse modo a seleção natural de grãos também é diferenciada: sem envolvimento humano.
Ao ingerir os grãos de café, o estômago digere apenas a parte frutada do grão, num processo digestivo diferente.
O pássaro aproveita apenas a polpa e a casca do grão, eliminando a semente intacta, com todas as suas características e com um sabor único.
Na fazenda, os grãos são colhidos próximos aos cafezais, nos pés da árvore. Isso porque, as aves costumam deixar seus dejetos exatamente nessa parte do cafezal.
Após colhidos manualmente, os grãos passam por um processo que inclui a secagem, limpeza e descanso. Somente depois disso, passam pela etapa de torra.
Na comercialização, o produto está disponível em cápsulas compatíveis com Nespresso, em grão ou moído.
Por que o Café Jacu é tão caro?
Já dissemos aqui que o Café Jacu é o mais caro do Brasil e um dos mais caros do mundo, junto ao Kopi Luwak e o Black Ivory (extraído das fezes dos elefantes africanos).
Mas o seu preço não é apenas justificado pelo seu processo de produção. O motivo está atrelado à dependência natural da vontade dos pássaros em se alimentarem do fruto.
Além disso, o Jacu é uma ave ameaçada de extinção, que está protegida sob legislação ambiental abrangendo toda região da Mata Atlântica brasileira.
Sua espécie está ainda mais ameaçada devido aos recentes crimes ambientais ocorridos na região do Rio Doce. Estes contribuíram para o comprometimento da reprodução da espécie no Espírito Santo, onde o rio deságua.
Por conta dessas leis, não se pode caçar, prender, criar ou reproduzir as aves. Este último fator dificulta a produção do Café Jacu, visto que não se pode alimentá-las em cativeiro para fazer a colheita dos grãos nos dejetos.
Assim, a produção do café é limitada por depender que a ave venha comer os grãos de livre e espontânea vontade. Ademais, a colheita e seleção dos grãos nos dejetos também é manual.
Daí o seu preço elevado (cerca de 30 vezes mais que o café comum), destinado geralmente ao mercado exterior.
No entanto, a dificuldade acaba favorecendo os hábitos naturais das aves e ajuda na perpetuação da sua espécie.
Dessa forma, a Fazenda Camocim produz um café único, mas de valor ecológico, ao preservar os jacus da região através de uma produção biodinâmica e sustentável.
É interessante mencionar, também, que o jacu só habita locais com saúde ambiental preservada.
Vale a pena comprar o Café Jacu?
Se vale a pena comprar o Café Jacu, isso vai da escolha do consumidor. O mercado internacional não tem do que reclamar e garante ser bem lucrativo.
No entanto, mesmo com o preço elevado, o fato de ser um café exótico e ter uma produção tão peculiar já é um motivo para não deixar de experimentar.
Algumas redes de supermercados e lojas especializadas possuem o café à disposição. No entanto, o preço não é nada em conta, com o quilo ultrapassando os R$800,00.
Se você é um apreciador de café e adora novidades, já percebeu que o Café Jacu não é qualquer um. Eu não deixaria passar a oportunidade.
Neto e filho de produtores, vi nesse ramo meu futuro e também a sequência de uma história de muitos anos, a paixão realmente nasceu quando vi que na CAFEICULTURA é possível ter uma ótima qualidade de vida e ser sempre recompensando pelo trabalho bem feito.